Eu finalmente assisti 'Grease'...


Eu 'sempre' soube que Grease era um filme importante, bem antes de chegar à Netflix. Isso porque fui uma daquelas crianças que cresceu assistindo os DVD's de compilação de vídeos de flashbacks, e quase sempre, tinha um vídeo do filme lá. Depois que tive acesso a Internet, foi procurar mais sobre aqueles vídeos e descobri que faziam parte de um filme. Como fã de musicais (geração Glee), tentei assistir o filme inúmeras vezes na Inernet, mas nunca encontrei um link. Minha emoção foi quando há algumas semanas atrás, vi que o filme entraria no catálogo da Netflix. Finalmente eu iria ver o famoso filme que inspirou gerações.

E então, eu assisti. E ainda não consegui processar tudo. (contém spoiler)



Por tudo isso que disse, eu tinha altas expectativas com esse filme. Talvez por isso não tenha me tocado que é um filme de 1978 e as coisas eram beeem diferentes nessa época. O filme pareceu completamente problemático aos meus olhos de mulher de 2020.

E em pensar que nessa época já estávamos na segunda onda do feminismo, e filmes como esse ainda eram produzidos. Não só produzidos, como premiados. Grease é o filme musical com melhor bilheteria de todos os tempos, de acordo com a Wikipédia, arrecadando 396 milhões de dólares. O álbum com as músicas do disco foi o segundo mais vendido naquele ano nos Estados Unidos. Até hoje, cantamos as músicas e relembramos o filme, vez ou outra. Remakers continuam sendo feitos, musicais, enfim. Grease é um sucesso.

Penso eu que esse filme encontrou outras formas de continuar a viver. Os filmes de high school são mais populares ainda em nosso tempo e sempre podemos encontrar um pouquinho de Grease neles.

O que é problemático e preocupante. Não quero com essa análise dizer que o filme deveria mais político ou adequado ao nosso tempo. Apenas proponho uma reflexão a respeito de como mudamos (ainda bem) algumas concepções e principalmente, a importância de entender como esses grandes objetos culturais influenciaram as pessoas. Se essas coisas fizeram sucesso na TV, é porque elas eram completamente aceitáveis na sociedade. Como eu não conseguiria discorrer sobre sem me perder, (pois são tantos aspectos!), vamos aos tópicos:

1- Garotas fúteis e garotos másculos:


Ah, os personagens. Na canção Summer Nights, tudo fica muito claro. Os meninos perguntam Danny se eles tiverem relações sexuais, se ela era fácil, se era bonita. Já as meninas perguntam Sanny se ele tinha um carro bom, se pagou os passeios para eles. As meninas são fúteis e se importam apenas com os meninos. Elas precisam ser ousadas e mostrar atitude, fumar cigarros e beber. Os meninos só querem saber de carros e de transar, 'a única coisa que se pode fazer com uma menina'. Um deles até pergunta, 'o que fazer com a mulher nas outras 23 horas e 45 minutos?
A princípio, Danny é 'diferente'. Longe dos amigos, ele viveu um romance de verão e fez Sanny se apaixonar por ele. Perto dos amigos, ele precisa manter a postura de bad boy, esnobar e maltratar as meninas, porque assim ele continuará sendo cool e popular. Sobre ele ser diferente, vermos no próximo tópico que não é bem assim.
A única personagem que trouxe algo diferente foi Frenchy, que vive outro dilema: a preocupação com o futuro. Ela parece ser a única a se lembrar que após o High School, precisa de um trabalho. A personagem tenta se tornar esteticista, mas acaba frustrada. Por hora, Frenchy termina a escola e deixa a escolha da sua profissão para depois. Pensando que é um filme voltado para o público adolescente e até infantil, essa parece ser uma boa 'lição'.

2- Sabia que isso é assédio?

Tudo depois do não é assédio, dizem nossas campanhas. Romantizar o assédio como uma coisa de casal é o que a sociedade sempre fez. O filme todo temos meninos levantando saia das meninas, meninos apalpando o corpo de meninas como brincadeira (inclusive da própria Sanny), mas o ápice vem do casal protagonista. Sanny e Danny estão em um cinema 'drive thru' e Danny sente vontade de avançar na relação. Primeiro, ele dá seu anel para a moça, que diz que era tudo que ela queria. Depois, ele tenta pegar no seio dela e ela pede para parar. Ele não para. Ele se deita sobre ela e diz que não tem ninguém vendo, ela pede para parar. Ele não para. Finalmente ela consegue o tirar de cima dela e sai do carro. Ele fica chateado e reclama. Ela acha que fez algo muito errado e que magoou ele. Vendo é ruim, descrevendo é ruim. Mas não tem como isso ser bom.

3- O gran finale sempre surpreende!

Quando nada mais parece poder piorar, piora. O gran finale do filme é a corrida que os T-Birds estão se preparando. Sanny fica ao longe observando seu namorado ganhar a corrida. Quando questionada por Frenchy, a personagem diz que não pode mais ser Sandra Dee, que quer ser alguém diferente. Basicamente, ela quer oficialmente incorporar o 'aparente' American Way Life. Durante a comemoração da formatura, Sanny aparece diferente: vestida de preto com uma roupa bem justa e sexy, os cabelos volumosos e a maquiagem carregada, e claro, fumando. Todos ficam enlouquecidos com a transformação de Sanny (quantos filmes você já assistiu que a garota ganha um makeover no final?). Danny está completamente feliz, sua amada se adaptou completamente a vida dele. Pronto, eles encerram a sua história de amor ao som de 'You are the one that I want'.

Então aprendemos que é lindo forçar a barra com sua namorada, porque, além de você não ter que pedir nem desculpas, ela irá se transformar no seu maior fetiche. 

Não se engane achando um absurdo esse filme, pois há inúmeros absurdos que continuam acontecendo e sendo normalizados por todos nós. No geral, melhoramos, sim. Muitas dessas cenas não rodariam em um filme atual da Netflix, por exemplo. Muito foi alterado, pelo ao menos aparentemente. As violências continuam acontecendo, porém com um caráter mais sútil. Um dia desses mesmo, eu estava toda apaixonada com a série 'Eu Nunca' até ler uma análise do Blog de Clara que me fez refletir muito! 

Mas me conta aí, se você já viu Grease e o que achou.

Até a próxima!


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