Alice Oseman retornou no finalzinho de 2023 com o quinto volume da amada série Heartstopper. Após um volume bem denso, abordando saúde mental, seguimos com a história de Nick e Charlie, lidando com o futuro que se aproxima, com a evolução da própria relação e com o desenvolvimento de cada um. Análise com Spoiler!
O volume 5 orbita sobre duas questões centrais: a escolha da faculdade de Nick e a primeira vez do casal.
Sobre a faculdade, Nick passa por um momento de dúvida e apreensão sobre seu próprio futuro. Parece que todos os amigos tem um rumo, enquanto ele ainda não sabe o que quer estudar. Só saber que não quer ficar longe de Charlie, e por isso têm uma faculdade perto da sua casa como primeira opção. Acho que esse volume é maravilhoso ao aprofundar nos dilemas de Nick, pois sempre Charlie esteve no foco, com a sua insegurança e questões de saúde mental. Nick parece sempre estar lá firme, ou lidando melhor com as inseguranças, ao menos. Bom, nesse volume o garoto passa por uma crise, diria que de identidade, e isso faz com que ele reflita sobre o apego ao namorado. Frases como 'eu não sei quem eu sou sem ele' mostram que o apego e a dependência que os dois acabaram criando é uma coisa que acontece nas duas partes.
Outro ponto relevante é quando Nick simplesmente não consegue conversar com nenhum amigo sobre a primeira vez. Apesar de estar sempre rodeado de bons amigos, ele acaba reservando toda a sua intimidade para Charlie, os sentimentos, enfim, sendo a pessoa com quem ele se abre. A viagem que Nick faz com Tara e Elle é muito importante para ele perceber isso. Conversar com outras pessoas pode ajudar muito e ver como as duas lidam com a possibilidade do namoro a distância ajuda Nick a clarear suas ideias e perceber o que quer de fato. E bem, ele quer uma universidade que fica a mais de 4 horas de distância de Charlie. Então..
Antes de falar da primeira vez, quero falar um pouco sobre como Charlie recuperou aos poucos sua confiança nesse volume. Ainda lidando com seus distúrbios, mas tentando aprender a lidar com eles da melhor forma, nosso baterista favorito encara dois pontos especialmente desafiadores e importantes: o primeiro é fazer parte de uma banda que vai tocar no festival de primavera, a convite de Sahar, e o segundo é se inscrever para líder estudantil. Essas duas coisas acabam ajudando Charlie a retomar as relações sociais, especialmente em contextos que não envolvam o Nick, o que é super saudável, para ambos.
É muito interessante pensar que a primeira vez dos dois só acontece no volume 5, depois de 'muita água passar pela ponte'. Existe uma ideia que isso precisa acontecer o mais rápido possível, e até os amigos deles presumem que o casal já tenha uma vida sexual ativa. Parece acontecer bem naturalmente, a medida que os sentimentos ficam mais intensos, as conversas começam. Acho fantástico a forma que a série mostra como isso afeta a família toda, afinal, são adolescentes né? Precisam da permissão dos pais para poderem dormir um com o outro. Pelo lado de Nick tudo é mais tranquilo, enquanto Charlie se irrita com as proibições, especialmente da mãe. Os dois acabam tendo uma briga feia, mas se resolvendo pouco depois. Confesso que havia uma expectativa em mim que a mãe dele seria outra pessoa depois do tratamento de Charlie, mas faz muito mais sentido que ela não seja, afinal nada muda de repente.
A primeira vez tem muito mais um tom de descoberta, com os dois tendo consciência de que esse é um mundo vasto de experiências a ser explorado. Alice ilustra esse momento de forma muito delicada e inteligente, como ela sempre faz.
Não posso deixar de ressaltar a cena maravilhosa de Tao trazendo Char para a realidade, que ele não precisa de Nick por perto para fazer tudo. Outro ponto a ser destacado é o aumento de tempo de história da Tori. Deve ser o livro que ela mais aparece, e isso deve estar relacionado ao fato de que esse volume está bem próximo da linha do tempo do livro Um Ano Solitário, que conta esse ano de Tori. (No final do livro tem essa linha do tempo com todos os livros do universo Heartstopper e é bem esclarecedora). Fiquei surpresa ao saber que Tori é assexual, não sei se isso será tratado na série, mas fiquei curiosa para ler o livro dela. Foi bom Charlie ter um momento para estar ao lado de Tori, porque sempre parecia que era o inverso, ela tomando conta dele, e de algum modo, nesse volume, ele acaba ajudando Tori a entender seus próprios sentimentos. Muito fofo!
Esse volume, como todos na verdade, termina com um saldo muito positivo. Charlie mais confiante, Nick cheio de expectativas quanto ao futuro, e, realmente, o fortalecimento do lado deles. A história de um casal não é só a história de duas pessoas, mas de todo o universo que os rodeia, os amigos, família, as circunstâncias e obrigações, do trabalho, da escola, enfim. É impossível viver naquele delírio de paixão inicial para sempre, mas é possível descobrir um caminho de lidar com tudo isso. Talvez seja isso o amor.