Delilah Green está para o mundo sáfico como Vermelho, Branco e Sangue Azul está para o mundo gay. É um livro super famoso, sucesso do TikTok, porque aparentemente, hoje em dia, essa é chave do sucesso, e eu tinha uma certa resistência a lê-lo por isso. Mas há alguns dias atrás resolvi baixar a amostra e eu simplesmente fiquei muito animada para ler o restante. E foi isso que eu achei dele: (com spoiler)
Delilah Green é uma comédia romântica perfeitinha, e espero que vire filme muito em breve. A história tem um bom humor, é leve, cheia de clichês, mas ao mesmo tempo consegue não soar repetitiva ou irrelevante. Delilah é uma fotógrafa (tem que ter uma artista!) que vive em Nova York com todo aquele esteriótipo de um bom jovem da nossa geração, que não se apega a ninguém, vive de bar em bar, lidando com vários perrengues. Ela na verdade tem uma história bem triste que é revelada quando retorna a Bright Falls para trabalhar no casamento da irmã, 'postiça', Astrid Parker.
Aos 10 anos, (acho que é 10 mesmo) ela já perdeu pai e mãe, e acaba ficando sob a responsabilidade da última esposa do pai, Isabel, uma mulher de classe alta (herdeira?), que segue aquele estilo americano, meio os pais da Lorelay de Gilmore Girls, sabe? Isabel também tem uma filha, a Astrid e as duas se tornam o que Delilah ainda têm de família. (Não é mencionado tios, nem primos, nem nada). A menina cresce com todo esse contexto, sem se sentir amada ou querida pela madrasta, se escondendo no seu mundo e sendo a 'esquisita' da família. Obvio que muita mágoa e ressentimento envolve tudo isso, e Delilah lida com tudo com muito deboche e sarcasmo para disfarçar o quanto a situação a machuca.
Porém, ao retornar a cidade, com um visual mudado, ela chama atenção de uma das melhores amigas da irmã, que não a reconhece de cara: Claire. Claire e Iris são amigas inseparáveis de Astrid desde a infância, e Delilah também odeia as duas. Mas Claire e Delilah acabam se envolvendo bem mais do que poderiam imaginar, e isso, aos poucos, muda toda a narrativa da fotógrafa.
Claire é uma mulher bissexual e tem uma filha de 11 anos. É raro ver mulheres 30+ nesse tipo de livro, ainda mais com filhos. Ela tem seu próprio arco na relação com o ex, Josh, que se acostumou a aparecer e sumir esporadicamente, "running like a father", né Taylor?
Ashley tem uma escrita muito interessante, bem humorada, bastante descritiva e intrigante, além de que ela é muito boa construindo os personagens. No final, eu já estava familiarizada com o jeito de cada um, até prevendo certas atitudes. Sendo um livro que tem continuação, esse é um aspecto legal.
Me incomodou, principalmente nos primeiros capítulos, as muitas pausas entre os diálogos para contextualizar as situações. Primeiro que eu só queria acompanhar os diálogos, e segundo que aquilo se prolongava demais. Também achei que mais no final a descrição psicológica, especialmente da Delilah, demoram muito. Todo mundo sabe que no fundo ela se importa, e esse desenvolvimento leva um tempo. Dito isso, esse livro realmente merece a fama que têm e espero que uma adaptação esteja a caminho!
Vamos a sequência, Astrid Parker?